Gusttavo Lima e Leonardo beberam cachaça, pediram doações, fizeram piadas, garantiram seguir todos os protocolos sanitários e cantaram sucessos sertanejos durante mais de cinco horas, cercados de marcas de produtos, QR Codes e garrafas de bebidas.

 

A cena acima é a cara de 2020, mas aconteceu no início de abril de 2021. "Cachaça e Cabaré 2" indicou que a ressaca de lives dos brasileiros passou - e o vício começa a ganhar um novo impulso, apontam os números.

 

Anselmo Troncoso, diretor de grandes lives sertanejas, dá uma explicação simples: "o mercado caiu de novo na realidade" de que não vai haver shows presenciais até pelo menos o fim do ano.

 

Ainda não dá para chamar de segunda onda. Mas o último final de semana, de 3 a 5 de abril, foi o período de mais buscas por lives no Google no Brasil em 2021 até agora.

 

As cifras ainda ficam bem longe do auge da onda de lives musicais, em abril de 2020. Naquela época, só uma das lives de Marília Mendonça foi vista mais de 54 milhões de vezes, por exemplo. Essa nova "Cachaça e Cabaré" teve, nos dois primeiros dias, 8 milhões de cliques.

 

Durante a transmissão, o pico de pessoas assistindo simultaneamente ficou em 1,5 milhão. O número é menor do que o visto em 2020, quando Marília passava de 3 milhões simultâneos, mas ainda assim, anima os artistas.

 

"Eu, Gusttavo e Leonardo sentamos para conversar depois da live e o Gusttavo estava supersatisfeito", contou, ao G1 Anselmo Troncoso, diretor artístico e sócio da AT+G Produções, que já trabalha com transmissões online desde 2006.

 

"Ele falava: ‘Leonardo, qual o recorde do seu show? 85 mil pessoas, 100 mil pessoas?’. E Leonardo falou: ‘80 mil, numa pecuária’. E o Gustavo: ‘Pois é, hoje, aqui atingimos um milhão e meio de acessos."

 

Assim como em 2020, Gusttavo foi responsável por puxar a onda de lives e, em 6 de março, fez a sua primeira de 2021. Na data, atingiu 1,4 milhão de acessos simultâneos. O anúncio agitou o mercado e trouxe uma nova onda de apresentações virtuais.

 

Desde então, além dos dois shows já citados, também se apresentaram Wesley Safadão, Marcos & Belutti e Simone & Simaria.

 

E as próximas?


Lives de Raça Negra, Xand Avião, Leonardo, Rai Saia Rodada, Luan Santana, Fernando & Sorocaba e Wesley Safadão estão programadas. Fora do sertanejo, vai acontecer o festival online Mucho!, com Alceu Valença, Lenine, Jorge Drexler e mais, nos dias 24 e 25 de abril. 

 

"A procura, novamente, vem com grandiosidade. Por quê? Porque não estão acontecendo mais os shows. O nosso mercado caiu de novo na realidade que até setembro, outubro, provavelmente, não vão acontecer os shows. Então é a forma de o artista se manter vivo, tentar ganhar algum dinheiro", explica Anselmo.

 

"Em dezembro e janeiro, se instaurou uma falsa e irresponsável sensação de que o vírus havia sido em parte superado, e muita gente foi para a rua. Shows voltaram a acontecer, alguns de maneira clandestina, outros para menos pessoas. Mas aos poucos foi se dando conta de que eram ações irresponsáveis", diz Felipe França, um dos organizadores do Festival Mucho!

Alceu Valença estará no festival Mucho! — Foto: Leo Aversa / Divulgação

O festival online que ele organiza, uma produção conjunta da Argentina e do Brasil, ainda tem a missão de juntar artistas de toda a América Latina (a maior estrela de fora é o uruguaio Jorge Drexler), região muito afetada pela pandemia.

"As lives voltam com força porque elas nunca deixaram de ser o nosso escaparate de sanidade no meio de tanto caos e isolamento", diz Felipe.


Patrocínio e transmissões conjuntas


Anselmo diz que as lives ajudam artistas e patrocinadores. O primeiro time fica próximo ao público, segue fazendo lançamentos e gera material para as redes sociais. O segundo atinge possíveis clientes em plataformas diferentes e usa a verba que seria destinada a eventos presenciais.

"A gente tem anunciante de um lado e artista do outro querendo fazer. Juntou-se essas duas vontades e vem novamente uma temporada de lives pela frente."

Mas a onda atual parece puxar artistas com mais estrutura comercial - vários em lives conjuntas. "No ano passado, a gente tinha desde artistas pequenos até artistas grandes. Hoje, a gente está de artistas médios a grandes. O artista menor, nesse momento, ainda não está na procura, na evidência."


Fonte: G1